domingo, 6 de janeiro de 2008

Alguém contou...

Foi há anos atrás num fim de tarde. Estava frio e nas ruas a atmosfera era de tristonho bulício cortada pelo calor húmido e cinzento que pairava nos cafés. Ele entrou exactamente naquele com ar de quem quer vencer todas as situações. Olhou vagamente em redor e atirou um olhar directo para o balcão. Sabia quem procurava. E ali estava ela receosa. Face a um conhecido desconhecido. Tal como tudo é sempre, mesmo que julguemos que não. Encarou-o ainda ao longe, antes de se cumprimentarem. Depois, foram falando. Mas ela tremia com falta de jeito. Ele não. A segurança da situação estava na sua mão. E o prazer de sentir esse comando e direcção era evidente, espelhado no seu rosto imperturbável onde só os olhos brilhavam. Aconteceu assim num dia esperado numa vida inesperada. Tal como tudo acontece ser.



Tomou o café mas soube-lhe mal. Conversar de olhos bem abertos, surpresos, expectantes e incrédulos perante os sentimentos. Só isso importava. O errado e o certo indefiniam-se à frente deles, o resto do mundo estava num eclipse total. Porque a vida tem acontecimentos. Eles têm ecos, são consequências. Sim, acontece as pessoas encontrarem-se. E os encontros das pessoas produzirem efeitos: o efeito neles foi uma longa sucessão de factos. Foi. Das coisas simples, fizeram-se complicadas.

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Tudo se deu naquele dia, naquele encontro. Não sei se o primeiro, segundo ou terceiro. A ordem não importa. O instante sim. No momento etéreo quando o olhar olhou - entendeu - e o outro olhar só viu o que era magia. A vida às vezes faz-se em sintonia. Quando as vozes são da mesma ternura. Basta uma só vez para valer a pena.

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Sairam para a rua onde a noite entrava. Fria, triste e húmida, os olhares brilhavam. Não se sabe como, aproximaram-se. Ela teve que ir mas ele ficou. Até chegar tudo o que veio depois...

(Tenho que recriar o resto da história!)