terça-feira, 30 de outubro de 2007

Livros


Vale sempre a pena conhecer melhor a História. Vale sempre a pena conhecer melhor a História de Portugal. Vale sempre a pena conhecer melhor as mulheres que fazem História e, em especial, a do nosso país.
Vale a pena ler esta biografia de grande qualidade e acessível ao grande público.

Hoje tive o prazer de estar aqui

29 de Outubro 2007

(Imagem daqui )

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Tsunami


Não houve vaga que não atingisse a paz singular do meu universo
Em rota de colisão o mar-força destroça
Não sou 100% pós-moderna
Mas sempre pós-tsunami interior



(imagem daqui )

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Big Calm

Nisto dos blogs, por vezes, surge a interrogação: "Para que serve um blog?" É inevitável. Já me deparei por aqui com respostas ocas, outras bem interessantes, outras humorísticas. Na verdade, serve para muitas e distintas "coisas", consoante as pessoas. E acho que pode ser positivo.
O que acontece é exactamente o que acontece sempre: a vida. E nela todos os cambiantes e matizes de que somos feitos. Com novas tecnologias, fazemos um diferente registo histórico. Do mundo e de cada um de nós. Cria-se um registo. Marca-se um percurso. Que também se apaga. Mas na complexa teia de inter-relações, algo permanece inapagável. E na realidade incorpora-se este novo registo submundano. Provavelmente, em muitas situações reais, hiper-realistas mesmo, o que acontece não aconteceria sem ter passado por aqui.
Um blog pode ser tantas coisas: positivas e negativas.
Dentre as últimas, destaco formas de funcionamento como catapulta para as "luzes da ribalta", onde pode não existir verdadeira consistência real. Mas isso é como na vida, em geral.
Pela positiva, destaco a sua existência como "espaço" de intervenção efectiva do mais comum cidadão. E ainda o mero registo de emoções, sentimentos, pensamentos, etc de cada detentor de tal espaço. Movimento pelo qual, de forma poderosa e inovadora, se torna possível um auto-conhecimento e uma auto-análise, deste modo, fenómenos permanentemente actualizados. E sobretudo partilhados.
Esta pequena e modesta reflexão acerca do virtual resulta de uns largos meses de existência deste blog, e após este "timing" pessoal, a questão coloca-se-me mais. Quer isto dizer, com alguma frequência e urgência. Desta pergunta tão simples, pode resultar a finalização abrupta de blogs que acontece tantas vezes e já me foi dado observar. Mas também pode resultar a sua continuidade. No entanto, em cada dia, a pergunta permanece e a resposta estará implícita em cada mero "abrir da página".

Hoje, o meu registo vai para este videoclip delicioso, a eterna música a fazer-se ouvir...
É bom ter calma, uma grande calma... Mesmo que às cegas. Mesmo que de olhos tapados.
E é bom fazer existir um pouco dessa calma aqui.


sábado, 20 de outubro de 2007

"Canto de mim mesmo"


Com a estrondosa música venho, com as minhas cornetas e tambores,
Não só toco marchas para os vencedores aclamados, também as toco para os conquistados e abatidos.
Ouviste dizer que foi bom vencer?
Também te digo que é bom perder, as batalhas perdem-se com o mesmo espírito com que se ganham.

Toco e volto a tocar pelos mortos,

Sopro por eles a minha mais alta e alegre melodia.

Vivas pelos vencidos!
E por aqueles cujos vasos de guerra se afundaram no mar!
E pelos náufragos também!
E por todos os generais que perderam e por todos os vencidos heróis!
E pelos inumeráveis heróis desconhecidos iguais aos maiores heróis
conhecidos!
Walt Whitman, Canto de Mim Mesmo



(Imagem: trabalho de Richard Dana)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pobreza

É suposto pensarmos na pobreza. É suposto falarmos dela e enfrentá-la. Talvez averiguar porque é que ainda existe. Talvez fazer algo que ajude a acabar com ela...
Mas todos sabemos como é difícil erradicar um mal. Quase sempre, quando se corta de um lado, ele aparece num outro. No entanto, a demissão cómoda em relação ao que sabemos estar errado também pode ser inadmissível.
A chamada ajuda humanitária é importante. Às vezes, a oportunidade de a praticarmos pode estar mesmo ali ao nosso lado. Porque a pobreza reveste muitas formas, umas mais evidentes, outras camufladas. A questão coloca-se, desde logo, na sua identificação. É certo que existem situações de pobreza óbvia. Olhar para essas situações incomoda mas há quem não nos permita não olhar. Por vezes, a pobreza é "posta" aí para ser olhada na sua crueza, brutalidade e radicalidade. É por isso que admiro o trabalho de
Sebastião Salgado. A dimensão artística do seu trabalho fotográfico parece-me admirável. No entanto, é o seu olhar de intervenção que mais me cativa. E obriga-me a olhar...
A pobreza é uma realidade. Mas que integra diversos níveis da realidade e, por isso, distintos planos de análise. Julgo que todos se interpenetram. E talvez seja essa a razão profunda pela qual a pobreza não desaparece da face do nosso planeta.
A pobreza a que devemos acudir é aquela que é mais premente: a fome, a falta de condições sanitárias e de cuidados de saúde, o direito à habitação, à educação... Mas as outras formas de pobreza influenciam e perpetuam aquela, a mais urgente no combate. Refiro-me à pobreza de espírito, à pobreza de diálogo, à pobreza de solidariedade, à pobreza de ideais, à pobreza de afectos... A ausência de horizontes alargados e de perspectivas de progresso para as sociedades humanas, isso tudo é também aquilo que origina a pobreza ao nível mais primário e elementar.


O perfeito alheamento do outro em que vive a sociedade actual, a sociedade onde existe "fartura", onde existe riqueza, é também pobreza. A questão é: aqueles que nada têm para se alimentar, não podem ter qualquer tipo de intervenção real na sua situação. Estão dominados pela insatisfação das necessidades mais elementares. Mas aqueles que já têm essas necessidades satisfeitas, são só esses que podem alcançar, então, a realização de necessidades mais elevadas (à maneira de
Maslow e da sua pirâmide das necessidades). Mais elevadas como é o caso da necessidade de contribuir para um mundo melhor, por ex., ou na mesma linha, a necessidade de concretizar esse desejo mediante planos de intervenção eficazes e sua implementação efectiva. A questão é que também aqui existe pobreza. Não há muitos ideais nem há muitas crenças na possibilidade de um mundo melhor. E esta pobreza, tal como a outra, inibe toda a acção. Problema dos problemas, não podemos comprar ideais. Nem crenças. Só nos resta criá-los e criá-las.

A pobreza do diálogo, a pobreza de gestos de entreajuda, a pobreza do olhar... Talvez seja necessário combater esta pobreza que co-habita com a abundância, para chegar a acabar com a outra.
Bem sei, sou uma idealista.

(Imagens: fotografias de Sebastião Salgado)

sábado, 13 de outubro de 2007

Estrelas, poeiras e buracos negros...


Por estes dias, ouvi uma notícia que me pareceu super interessante e digna de ser assinalada. Entre o que se escuta por aí, é preciso fazer triagens. Feita a minha, seleccionei este facto, agora relembrado à luz de novas imagens obtidas, e que já há algum tempo tem vindo a suscitar a minha admiração e curiosidade (espanto filosófico, se quiserem...). Também uma certa alegria.
Refere-se a nós e refere-se às estrelas. Existe algo mais atraente? Aquelas estrelinhas tão bonitas, a piscar no céu, são feitas da matéria que está na nossa origem. Na do planeta, na da vida em geral, em última análise, na origem da nossa vida de seres humanos.

Cientistas, astrónomos e astrofísicos em particular, constataram através das suas investigações, desenvolvidas ao longo dos últimos anos, e a partir de imagens que lhes vão sendo enviadas do espaço, o seguinte facto extraordinário: há poeira estelar nas imediações de buracos negros. Assim sendo, pode pensar-se, desde já, que esta poeira, matéria que estará na origem das próprias estrelas, provém de um local onde, hipoteticamente, tudo é sugado e nada é devolvido. Onde nada escapa ao desaparecimento para um algures...
Pelos vistos, ou alguma coisa não é "engolida" ou é-nos devolvida pelos buracos negros. Porque fica por ali, nas imediações dos ditos buracos negros, até chegar a ser visível por nós. Visão esta que não posso deixar de considerar como resultado de trabalhos de "gigantes"! Quando quer, o ser humano é capaz de coisas magníficas. Pena que não se distribuam sempre as energias de uma forma mais acertada para o futuro da nossa espécie.

Assim sendo, fica a interrogação: o universo formou-se a partir de um buraco negro?! Que mistérios encerram estes estranhos locais do universo? Afinal, a vida surgiu das "trevas"?! Interrogações que ficam no ar, para pensar, sempre à espera de mais novidades...

Quando dizemos que somos "feitos" de estrelas, podemos em alternativa avançar que somos feitos de poeira estelar que "convive" com buracos negros... A diferença reside provavelmente, entre outros importantes aspectos, numa questão de transformações da matéria e no facto de ela existir sob maior ou menor ordem, organização e complexidade.

Fica esta menção, nada "científica", nada conclusiva, mas repleta da minha mais profunda admiração!

Para mais informação sobre... seleccionei aqui

De destacar também a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Doris Lessing. Justamente merecido. Uma grande escritora que nos tem proporcionado uma insubstituível visão do ser humano. Porque não se têm publicado mais as suas obras?!

O facto do Prémio Nobel da Paz ter ido para Al Gore, bom, neste caso, já se me colocam algumas dúvidas quanto a tal decisão.

Bom fim-de-semana!

(Imagem daqui )

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Era uma vez...


Era uma vez um rei e esse rei tinha um trono. Por vezes, o rei pensava em partilhar o seu trono com outras pessoas, pois eram muitas as ocasiões em que se sentia sózinho. Assim descobriu que estava entediado. Todos os seus domínios lhe pareciam cinzentos para lá da sua vastidão geográfica. Todos os súbditos lhe pareciam desinteressantes. A sua inteira obediência era uma constante e já nem sabia que destino dar a tantas ofertas e tantos presentes que à sua volta se empoeiravam. Por vezes, noite dentro, saía do seu quarto, e pé ante pé, ia espreitar as tantas coisas que possuía. Vezes houve em que julgou ouvir risos abafados. Podia jurar que todos aqueles objectos estavam animados, embora adormecidos. Podia jurar que se riam dele e que esse estranho riso era de troça. Troça da sua inutilidade e vã existência.

O rei sentia-se muito aborrecido com este seu estado de espírito. Foi por isso que teve a ideia de arranjar uma rainha. Foi difícil escolhê-la porque as pretendentes eram mais que muitas. Finalmente, decidiu-se por uma futura rainha que parecia divertida e calma de uma só vez. E passou assim a partilhar com ela os seus dias, percorrendo na sua companhia os corredores do seu imponente castelo, os quais se estendiam longa e solenemente, carregados de uma atmosfera fria. Pairava no ar um vazio, uma certa ausência de sinais de vida.

Corrido tempo, o rei voltou a sentir-se entediado. Mas a acrescer veio o facto de a rainha ter perdido o seu bom humor e ter começado a sentir igualmente um indescritível tédio. Tinha lido algures que se tratava do spleen, requintadamente retratado por Baudelaire e Proust. Mas nada disso aliviava o mal-estar dum e doutro.
O rei ainda fez uma iluminada tentativa para alegrar a rainha: ofereceu-lhe uma varinha de condão. Em tempos, tinha-se divertido bastante com ela. E a rainha também andou divertida por uns tempos, transformando flores em abóboras e abóboras em flores; tornando homens em mulheres e mulheres em homens; espalhando amor, desamor, ódio, alegria e tristeza a seu bel-prazer. Uma vez transformou um homem em rato e fartou-se de rir. Uma vez até se lembrou de apanhar o rei desprevenido e transformá-lo em súbdito. Foi realmente um dos momentos mais divertidos da vida da rainha. Nem sequer lhe ocorreu que o rei pudesse ter feito o mesmo com ela, inúmeras vezes. Estava demasiado entretida com transformações.
Uma outra vez, lembrou-se de usar a varinha mágica de condão, ou lá o que era aquela batuta brilhante, em si mesma. O desejo era sentir-se feliz. E ficou. Mas acabou por achar desagradável tanta felicidade. E usou o toque mágico para ser infeliz, de novo.

Assim se passaram vários e longos anos. O spleen escorria cada vez mais pelas paredes do imenso castelo. Essa atmosfera invadia cada vez mais a pele e o pensamento quer do rei, quer da rainha. Decidiram então ter principezinhos. E em pouco tempo, ecoavam no castelo choros, gritos e risos de dois filhos dos reis: um principezinho e uma princesinha. Foram bons tempos no castelo deste rei e sua rainha. Mas os principezinhos faziam justiça ao ditado "quem sai aos seus, não degenera". E em poucos anos, os risos de crianças no castelo evaporaram-se... Quem fosse visitar as encantadoras crianças, depressa reparava no seu aborrecimento permanente. Nada as satisfazia, tudo as aborrecia. Os seus desejos eram ordens e os súbditos fizeram de tudo para as alegrar. Indiferença...
Felizmente, o rei tinha um anjo protector. E a rainha outro. Estes anjos tinham umas amigas fadas. Foi assim que em reunião de emergência, perante tal estado de coisas, decidiram todos em conjunto accionar o plano radical que tinham sempre guardado para casos destes.

Uma grande tempestade abateu-se sobre o castelo. A terra tremeu e as grossas paredes frias abriram frestas e cairam. O rei, no meio deste desabar brutal, ainda ficou ferido, mas os anjos providenciaram a fuga de todos a salvo. À volta, todo o reino mostrava a face da destruição. As terras ardiam, os súbditos gritavam e fugiam, os animais morriam. Enquanto corria, olhando à sua volta, cheia de medo, a rainha lembrou-se do que tinha lido acerca do inferno, imaginado por Dante. Mas isso só a fez fugir mais depressa. Foi assim que esta família: rei, rainha e seus principezinhos se viram sem nada. Na miséria. O rei nunca mais se recompôs totalmente dos seus ferimentos. E a vida transformou-se. Sem varinha de condão. Mas por obra e graça dos anjos e das fadas.

Um belo dia, daqueles em que uma peça de fruta e um pedaço de pão lhes foi possível arranjar... Estavam todos sentados à beira de um riacho, apreciando a parca refeição... O rei olhou a sua rainha, depois os filhos... E sentiu-se feliz. Viu perante si a perspectiva do dia seguinte, sem possuir nada agora... e lembrou-se de que tinha muito para fazer. E sentiu-se feliz. Olhou de novo a rainha e depois as crianças. Quis dar-lhes o que estava em falta. E sentiu-se feliz.
De imediato, rainha e principezinhos sorriram. Não sabiam porquê, mas também descobriam a felicidade. Uma espécie de anti-spleen que acabavam de encontrar. Fome, sede e desconforto. Trabalhos e canseiras, lutas em espera... O delírio da existência como incógnita. A vida em modo experimental. Sem conclusões científicas. Nem líricas. Até porque a rainha tinha perdido todos os seus livros no meio da reviravolta e confusão. E a varinha de condão... essa também não resistiu aos estragos.
A vida é bela!
Psicanálise de Contos de Fadas made in A.P.

sábado, 6 de outubro de 2007

Joie de vivre!

É preciso saber temperar a vida com pequenas doses de alegria. Há pequenas coisas simples que estão aí para nos dar essa alegria.
Saberei encontrá-las, aproveitá-las?
Sei que é isso a sabedoria, a verdadeira. E estou a aprender...
Por agora, com algo tão simples como uma musiquinha. Nunca conseguiria ser feliz sem música. Jamais.
Bom fim-de-semana para todos!


quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Alma Lusa ou Filosofia da Saudade

Para quem tem uma alma lusa... que o mesmo é dizer, para quem vive o sentimento da saudade.
Quando se olha o Tejo, jogo de sombras e névoas, ou ainda iluminado pela intensa claridade... quando se ouve, ao longe, o fado... toda a força da vida se condensa nessa intensa emoção que é saudade.
Consciência da relatividade de tudo? Vestígio de um passado repleto de partidas?
Podemos não saber. Mas faz parte de nós.



Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.
Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou -
Em num, o antigo tempo é nova idade.
Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.
Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.

Teixeira de Pascoaes




"Só o que no mais íntimo da alma acalenta as altas aspirações dignificadoras do homem, só o que ama profundamente a vida e sente presente sempre o obsediante enigma do ser, aquele que, ao erguer nos braços uma criança, ergue uma alvorada no coração; o que compreende o sorriso macerado do humilde, a agonia do sonhador infecundo, tudo o que há de grande, trágico e inexprimível; esse só pode ensinar a vida."
Leonardo Coimbra, in Dispersos II


(Imagens: fotografia de autor desconhecido e Morte de Inês de Columbano Bordalo Pinheiro)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Sem palavras...

Descobri recentemente e fiquei fascinada por este diferente olhar sobre a realidade.
O olhar transforma a realidade? Ou ela contém em si tantas outras coisas, ocultas expressões de vida que só alguns conseguem ver?
Um exemplo de talento devastador.




Diane Arbus
. Uma fotógrafa extraordinária (à qual voltarei...), revela o verdadeiro significado da expressão:

"uma imagem vale por mil palavras"