terça-feira, 24 de abril de 2007

Porque me apetece...


Fui à minha pequena biblioteca e encontrei um oportuno texto que me apetece recordar:

Quero saber pensar

Imagine que um dia alguém se aproximava de si na rua e em vez de lhe perguntar polidamente as horas, ou onde é que ficava a rua tal, lhe perguntava, com a maior naturalidade:
- Importa-se de me dizer se sabe pensar?

Imagine, com a maior realidade que puder, que essa pessoa lhe pedia que a ajudasse a pensar, exactamente com a mesma naturalidade com que lhe pediria lume ou troco de vinte escudos.

Imagine que lhe faziam essa pergunta assim, na rua, ou em qualquer outra circunstância, e tente avaliar pela sua surpresa ao recebê-la e pela resposta que eventualmente lhe daria, o que é que pensa a respeito da necessidade de saber pensar; se alguma vez teve dúvidas sobre se sabe ou não pensar, ou quantas vezes, e exactamente de que maneira, é que o problema se lhe pôs.(...)

Poucas pessoas terão alguma vez na vida perdido um minuto do seu sono a pôr, ou a tentar resolver, explicitamente, essa questão. Mas todas as pessoas perderam - e perdem continuamente - muito mais do que um minuto, uma hora ou uma noite inteira do seu sono, por não saberem pensar - por não quererem saber pensar.

Quero filhos, quero vodka, quero um ideal; quero uma casa no campo, quero um guru, quero um bife de lombo, quero a eternidade, quero um perfume francês - mas nunca ouvi da boca de ninguém isto:

QUERO SABER PENSAR

Sousa Monteiro, Tire a Mãe da Boca

E este texto apetece-me porque ando um bocado preocupada, acho que não ando a pensar bem e gostava de pensar melhor... ou pior, não sei... mas acho que uma auto-análise faz sempre bem... e deu-me para isto...

Nota: a referência aos "vinte escudos" está, obviamente, desactualizada, mas o resto do texto acho que continua a ser mesmo vanguarda...

Felizmente que há gente "séria", como o autor deste texto, que nos faz pensar e querer saber pensar...
E todos os dias são dias do livro para mim. Divinos livros que tanto me fazem pensar e... que estranho!, tanto me fazem descansar... companheiros insubstituíveis da nossa "Terrena Comédia".