segunda-feira, 23 de abril de 2007

Eu, a música e Chopin



O meu interesse pela música existiu desde sempre, julgo, mas foi um interesse que, até hoje, nunca parou de crescer.
Na verdade, é bom que o diga, sei muito pouco de solfejo e nunca aprendi a tocar piano nem qualquer outro tipo de instrumento musical. Com muita pena minha. Resumindo, não tenho nada que me ligue especialmente à música, a não ser um gosto muito espontâneo e, nesse sentido, genuíno. Mas não sou uma entendida no sentido rigoroso do termo, nem nunca vivi muito ligada a qualquer tipo de meio musical. A não ser uma ou outra brincadeira com amizades do tempo da adolescência. Uma ou outra participação em coros musicais nas escolas e em festas de outros tempos. Nada mais.
No entanto, hoje, eu preciso de viver com música, no meu quotidiano. Bom, a verdade é que devo à música (especialmente à que designamos por clássica) muito do meu equilíbrio emocional. Foi a música que me serviu de suporte em fases mais difíceis da minha vida. Não posso dizer que a música curou ou cura todos os meus males mas tenho que reconhecer que foi uma espécie de bálsamo a que foi vital recorrer, por vezes. E ao qual recorro.

Em tempos, numa ida ao médico em virtude de me sentir muito cansada, nervosa e cheia de stress, o que ele me receitou para esses males foi simples: "Chegue a casa e oiça os Prelúdios de Chopin, esqueça tudo e concentre-se nisso..." Enfim... Nessa época, confesso que não liguei nenhuma, achei mesmo algo ridícula tal recomendação. Pensei que o médico estava a brincar comigo. E nem me sentia capaz de perder tempo a ouvir composições tão fora daquilo a que os meus ouvidos estavam habituados. Portanto, não o fiz.

Mais tarde, mais tarde mesmo...tendo arquivado na minha memória aquele conselho, não sei porquê..., experimentei ouvir qualquer coisa de tal género musical, em determinada altura mais sensível, acho. Foi quando, então, me fui apercebendo do poder positivo que exerciam sobre mim certas composições e certos autores clássicos. A partir daí...de muitas formas, esse gosto foi crescendo, o interesse despontando... e parece não ter fim, para já. Assim, este interesse pela música veio somar-se a outros já existentes. E nunca me decepcionou, pois é certo que encontro sempre coisas novas para descobrir e apreciar a este nível. É um mundo que pode ser fascinante!
Por outro lado, precisamente por não ser capaz de criar nada musical na verdadeira acepção do termo, a minha admiração é ainda maior! Pude comprovar por diversas vezes o quão difícil é, por exemplo, aprender a tocar piano. Tenho o maior respeito por todos quantos dedicam a sua vida à música!

Não resisto a colocar aqui mais uma peça musical de Chopin (um dos compositores que muito aprecio, entre outros). Algumas das minhas simpáticas companheiras de blog indicaram que gostam muito, sobretudo, dos Nocturnos. Por isso... um Nocturno de Chopin! Por mim, embora goste de quase tudo, a minha preferência maior oscila entre os Nocturnos e os Prelúdios.



Sobre este Nocturno:
" O Nocturno em Dó menor, Op.48, nº1, é o mais grandioso, e sem dúvida o melhor, de todos os Nocturnos de Chopin. Aliás, em muitos aspectos assemelha-se mais a uma Balada. Kullak considerava que «a estrutura e o conteúdo poético...fazem dele o mais importante de quantos Chopin criou; o tema principal é uma expressão magistral de uma dor grande e poderosa, causada, por exemplo, por uma grande desgraça acontecida na nossa pátria amada.»
Chopin era particularmente minucioso quanto à forma como deviam ser tocados os exigentes quatro primeiros compassos. «Nunca ficava satisfeito», relata Lenz, que finalmente conseguiu «ao cabo de prolongados esforços» tocar os dois primeiros compassos a contento do compositor, antes de ser de novo posto à prova com os dois seguintes."
in Chopin, Vida e Obra, Jeremy Nicholas