sexta-feira, 30 de março de 2007

Paolo Conte

quinta-feira, 29 de março de 2007

So FLute - St. Germain

segunda-feira, 26 de março de 2007

Faith And Reason

Colin McGinn: um filósofo da actualidade que vale a pena conhecer.

Livros: convite à leitura

A Bizâncio tem uma nova colecção de livros: Filosoficamente. Atenta que costumo estar a novas publicações nesta área, pareceu-me ser uma boa aquisição, a do primeiro título da colecção: "Como se faz um Filósofo: a minha viagem na Filosofia do séc. XX" de Colin McGinn.
Trata-se de um livro interessante, bem escrito, cheio de pensamentos claros, em grande parte impregnado de um olhar que se situa na perspectiva da filosofia analítica. Embora esta designação possa ser "um rótulo demasiado limitado", segundo palavras do próprio autor, uma vez que não é exactamente essa a proposta de discussão apresentada pelo livro. De facto, há que reconhecer: consegue interessar-nos vivamente! O autor assinala o seu objectivo principal, o de chamar a atenção para as questões filosóficas, dado o seu interesse intrínseco. Parece-me, ainda, ter como objectivo divulgar o trabalho que se vai realizando no âmbito da Filosofia académica contemporânea.

Apesar de considerar que a filosofia não pode reduzir-se por inteiro a este tipo de análise, considero ser um excelente trabalho de divulgação, o qual certamente tem tudo para chegar ao grande público. Recomenda-se a leitura a todos, desde os estudantes de Filosofia até ao leitor comum, já que é super agradável, nada maçadora e muito estimulante. A linguagem é extremamente acessível e as questões abordadas, como não poderia deixar de ser, muitíssimo interessantes.

A revisão científica é de Desidério Murcho, King's College, Londres, assim como a direcção da colecção. Para os interessados, como eu, é bom estarem atentos às próximas publicações.

Sobre a Colecção, pode ler-se na contracapa: " Filosoficamente é uma aposta da Bizâncio para apresentar, quer ao grande público, quer aos estudantes e professores, obras de Filosofia de natureza diversa, criteriosamente seleccionadas e imprescindíveis."

Sobre o autor é-nos dito o seguinte: " Colin McGinn frequentou a Universidade de Oxford onde foi também professor. É um dos mais importantes filósofos da actualidade, tendo escrito inúmeros artigos sobre Filosofia e os filósofos em publicações como a New York Review of Books, London Review of Books, New York Times Book Review, etc. Já escreveu diversos livros de Filosofia e publicou um romance. Ensina na Rutgers University e vive em Nova Iorque."

Alguns excertos que selecciono:

" O que haveria eu de fazer, porém, depois de ter decidido que os problemas da Filosofia que mais me interessavam não poderiam ser resolvidos? Continuar a explicar aos outros por que razão as suas ambições filosóficas são inúteis? Achar outra coisa em que trabalhar que me desse mais esperanças de progresso? Por acaso, uma das cadeiras que oferecíamos em Rutgers não tinha professor aquele ano - Problemas Filosóficos na Literatura. Ofereci-me para dar a cadeira, apesar de nunca ter ensinado nada do género antes. A minha intenção, (...), consistia em usar obras de literatura como materiais para uma cadeira de ética. O meu próprio interesse na escrita ficcional foi um dos motivos, mas também gostava da ideia de me voltar para algo completamente novo; (...). O objectivo era fazer uma cadeira sobre o tema negligenciado da vida."

" O principal resultado de dar esta cadeira,(...), foi ter escrito um livro intitulado Ethics, Evil and Fiction (...). Um dos capítulos intitula-se «A Personagem Perversa», no qual tentei delinear e explicar a psicologia de uma pessoa perversa. Também isto me levou mais um par de vezes a aparecer na televisão, nas quais discuti vários psicopatas e malfeitores. As personagens nos romances que estava a leccionar foram um estímulo para este trabalho, mas alguns dos acontecimentos nas notícias também me impeliram a considerar outras personagens malfeitoras, (...). O meu tema geral era o de que personagens perversas invertem a empatia normal que sentimos pelo sofrimento alheio: em vez de sofrerem quando os outros sofrem, divertem-se com o sofrimento alheio. O sádico é precisamente alguém que retira prazer do sofrimento alheio. Distingui os motivos do sádico puro dos daquelas pessoas que são instrumentalmente más: uma pessoa pode causar sofrimento aos outros com o objectivo de conseguir outra coisa, por exemplo, através de um roubo violento, mas o sádico é alguém que causa sofrimento aos outros sem outra razão para o fazer.
É o que classificamos de pura malvadez. A personagem James Claggart, em Billy Budd, é o puro mal, pois procura destruir o inocente Billy sem outra razão a não ser destruí-lo; não retira qualquer benefício, como promoção, da desejada destruição. Sugeri que uma profunda inveja existencial tem um grande papel neste tipo de mal - principalmente a inveja da virtude e da inocência. Claggart queria Billy morto por causa do seu sentimento invejoso de nunca poder vir a ter a natureza bondosa de Billy; o ódio da bondade é gerado pela inveja que se tem dela. Acho que os filósofos morais deveriam discutir mais este tipo de tema, (...). Em qualquer caso, a literatura fornece claramente um campo imenso para a reflexão moral. Não se trata de um mero acidente o facto de falarmos da "moral da história"."


"Conheci Oliver Sacks através de Jonathan; (...). Numa ocasião, apresentou-me a Robin Williams, que fazia de Sacks na versão cinematográfica de Despertares, o livro de Sacks acerca dos efeitos curativos do L-dopa. O actor estava tão imparável como sempre, fazendo-me uma imitação verdadeiramente espantosa de um condutor de táxi indiano de Londres que na realidade era um físico nuclear. Williams, porém, também me pareceu um homem com um espírito muito lógico e directo; há uma ordem sob todo aquele caos criativo. Trocámos impressões sobre o que, contra todas as expectativas, me tinha levado para a Filosofia e a ele para a comédia de palco (Williams estudava ciência política na faculdade)."

" Já que estou a exibir nomes de estrelas de cinema, (...). Fui por acaso à festa de estreia do filme Conhece Joe Black? por cortesia de um amigo que trabalha no cinema. (...)
Mais tarde naquela mesma noite, também tive uma breve conversa com Anthony Hopkins, (...). Como já tinha observado, dizem muitas vezes que sou parecido com ele, pelo que aproveitei a oportunidade para lhe pedir a opinião. Hopkins olhou-me directamente para a cara durante um longo momento, com as pessoas a andar de um lado para o outro à nossa volta, enquanto ele pesava a pergunta, até que proferiu o seu juízo: «Não, de facto não somos parecidos, apesar de perceber por que possam as pessoas achar isso.» Concordei, dizendo que nunca me tinha ocorrido tal coisa até as pessoas começarem a mencionar o facto. E ele acrescentou, depois de uma pausa significativa, com uma voz que só ele domina: «Bom, talvez em volta dos olhos.» Com olhos nos olhos, acenei a minha concordância, (...)."
in "Como se faz um Filósofo", Colin McGinn

domingo, 25 de março de 2007

O Abraço


O Abraço, Matisse

(porque nem só de cor Matisse se fez...)

De Matisse


Matisse por Henri Cartier-Bresson

Tantos são os pintores que admiro e que me apaixonam. Um deles, em especial: Matisse, cujas telas expressam um encanto pela vida que é contagiante. Uma festa de cores enebriante, a cor na sua essência mais primitiva, chegando, por vezes, a ser brutal... tudo nele revela um mundo de sensações e de emoções incontroláveis. Com Matisse, a vida é uma festa. De genuína alegria!


Alegria de Viver, Matisse

Matisse escreveu a propósito deste quadro:
" O que eu busco acima de tudo é a expressão. (...) Mas a expressão não consiste na paixão espelhada no rosto humano. (...) Todo o meu quadro é expressivo. A colocação das figuras e dos objectos, os espaços vazios à sua volta, as proporções, tudo representa um papel."
(citado por H.W.Janson, in História de Arte, Ed. Fund.Calouste Gulbenkian)

E se o meu blog não se intitulasse Música do Acaso, teria como título Alegria de Viver...
Um outro aspecto pelo qual Matisse me fascina é a forma como o traço fica numa zona intermédia, algures entre o figurativo e o abstracto. Essa tensão essencial é um permanente apelo à imaginação através do nosso olhar.

Matisse é daquelas figuras que permanecem na minha memória e a quem presto a minha sincera homenagem! Que maravilha é ter existido e ter deixado ficar tantos prazeres para o olhar e para a imaginação...
Que viva Matisse!

Sketch de Matisse por Picasso

sexta-feira, 23 de março de 2007

O sentido das palavras: "amor"


Out of Love, Ben Goossens

Que tipo de amor preferimos?

"O
amor concupiscente : faz desejar a coisa que se ama."
Concupiscente vem do latim concupiscente-, de concupiscere [< con- 'intensidade' + cupiscere 'desejar'],
'desejar ardentemente; ambicionar' e designa aquilo 'que tende ao prazer apaixonado dos sentidos' :
O amor concupiscente, enquanto amor-desejo, contrapõe-se ao amor platónico.

Da mesma família: cúpido, cupidez, Cupido, concupiscência


"Amar com um amor oblativo":
Oblativo vem do particípio perfeito latino oblatu-, do verbo offero 'oferecer', mais o sufixo adjectival -ivo, e designa aquele 'que se oferece voluntariamente' :

O amor oblativo é o que se traduz numa dádiva da própria pessoa.

Da mesma família: oblação, oblata


"Amor captativo"
Captativo vem do particípio perfeito latino captatu-, do verbo captare 'tentar deitar a mão a algo; prender' mais o sufixo adjectival -ivo, e designa aquilo 'que tem o poder de agarrar ou captar; absorvente' :
O amor captativo procura o domínio do ser amado.

Da mesma família: captura, captação, caixa, cativo, cativeiro

quinta-feira, 22 de março de 2007

Às voltas com fotografia...


"Vista de Gras", Nièpce, 1826
(fotografia mais antiga que se conserva)

Descobri, em mim, este novo interesse, o da fotografia. Desde então, tenho encontrado neste tema uma fonte inesgotável de buscas e de interrogações . Há muito para descobrir, reflectir, imaginar...
Esta fotografia pode deixar-nos algo decepcionados, mas, segundo pude averiguar, é a mais antiga que se conserva.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Cesariny no Dia Mundial da Poesia


Sunset Glow, Tyler Wind

Todos os dias são dias de poesia! Mas hoje, especialmente, Dia Mundial da Poesia, não poderia terminar sem passar aqui um poema de um dos nossos maiores poetas, Mário Cesariny. Um poema dele, entre tantos dele especiais, mas que é um dos que mais me encanta, em absoluto! A ele presto a minha mais sincera homenagem!

"O navio de espelhos"

O navio de espelhos
Não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
Que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
Nenhum cais o abriga

(O seu porão traz nada
nada leva à partida)

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo

© 1965, Mário Cesariny

Dia Mundial da Poesia


Lou Andreas-Salomé
" A vida humana, toda a vida humana é poesia" - Lou Andreas-Salomé

Para uma amiga (em especial)


Porque gostaria de o ler em conjunto com a minha amiga, aqui fica o texto, na expectativa de que assim , essa leitura partilhada se torne possível... com ela e com todos.

" Meu caro senhor Kappus:

Longo tempo passou sobre a sua última carta. Não me queira mal. Trabalho, incómodos e preocupações quotidianas impediram-me de lhe escrever. Além disso, desejava que a minha resposta fosse o eco de dias calmos e bons. (...)
(...) Sabemos muito poucas coisas, mas a certeza de que devemos sempre preferir o difícil não nos deve nunca abandonar. É bom estar só, porque a solidão é difícil. Se uma coisa é difícil, razão mais forte para a desejar. Amar também é bom, porque o amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais alto testemunho de nós próprios, a obra suprema em face da qual todas as outras são apenas preparações. É por isso que os seres (...) precisam de aprender. Com todas as forças do seu ser, concentradas no coração que bate ansioso e solitário, aprendem a amar. Toda a aprendizagem é um tempo de clausura. Assim, para o que ama, durante muito tempo e até ao largo da vida, o amor é apenas solidão, solidão cada vez mais intensa e mais profunda. O amor não consiste nisto de um ser se entregar, se unir a outro logo que se dá o encontro. (...) O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes. Quando o amor surge, os novos apenas deviam ver nele o dever de se trabalharem a si próprios. (...)

(...) Nunca, nem na morte, que é difícil, nem no amor, que também é difícil, aquele para quem a vida é uma coisa grave terá a ajuda de qualquer luz, de qualquer resposta já dada, de qualquer caminho de antemão traçado. Não há regras gerais para nenhum destes deveres que trazemos escondidos em nós e que transmitimos àqueles que nos seguem sem jamais os esclarecer. Na medida em que estamos sós, o amor e a morte tocam-se. As exigências dessa terrível empresa que é o amor através da nossa vida não são à medida dessa vida e jamais estaremos à altura de merecer o amor desde os primeiros passos. Mas se, à força de constância, consentirmos em suportá-lo como dura aprendizagem, (...), talvez um progresso insensível, um certo alívio possa então resultar para aqueles que nos seguirem (...).

A mulher, que uma vida mais espontânea, mais fecunda, mais confiante habita, está sem dúvida mais perto do humano do que o homem - (...). Esta humanidade, que na dor e na humilhação amadurece a mulher, virá à superfície quando esta quebrar as cadeias da sua condição social. E os homens, que não sentem aproximar-se esse dia, ficarão surpreendidos e vencidos. (...) E estas palavras: «rapariga», »mulher», não significarão somente o contrário de «homem», mas qualquer coisa de pessoal, valendo por si mesma; não apenas um complemento, mas uma forma completa de vida: a mulher na sua verdadeira humanidade.

O amor deixará de ser o comércio de um homem e de uma mulher para ser o de duas humanidades. Mais perto do humano, será infinitamente delicado e cheio de atenções, bom e claro em tudo o que fizer ou desfizer. Este será o amor que, lutando duramente, agora preparamos: duas solidões que se protegem, se completam, se limitam e se inclinam uma para a outra. Isto, ainda: Não julgue que o amor que conheceu adolescente se tenha perdido. Não foi ele que fez germinar em si aspirações ricas e fortes, projectos de que ainda hoje vive? Tenho a certeza de que esse amor apenas sobrevive, tão forte, tão poderoso na sua recordação, pelo facto de ter sido a primeira ocasião de estar só no mais profundo de si próprio, o primeiro esforço interior que tentou na sua vida.

Meu caro senhor Kappus, todos os meus votos de felicidade. Seu
Rainer Maria Rilke (Roma, 14 de Maio de 1904)"
in Cartas A Um Jovem Poeta,Rainer Maria Rilke

Depois de reler este magnífico texto, não posso deixar de comentar o quanto é surpreendente o facto de existirem mentes assim. Realmente, há homens superiores às mulheres! Quando conseguem entendê-las melhor que elas mesmas... Claro que Rilke teve uma grande referência para avaliar das inquietações femininas: Lou Andreas-Salomé.
Acrescento ainda o seguinte: há uma certa nostalgia em relação a escrever cartas. Deixámos de as escrever?

Para mais detalhes sobre Rilke e alguns poemas, quem estiver interessado pode clicar, por exemplo, aqui

terça-feira, 20 de março de 2007

Tentativa 2


Ben Goossens, "This night had thousand eyes" (Nikon D70)


Da Identidade (I)

Nada sou
Sendo fantasma ou espectro
Remota ideia que cedeu
No apagamento do eu
Neste medo de perder
Uma hipótese de mim
Que se instala com vagar
Como se já fosse assim...
No medo de poder ser todos
Que equivale a ser nenhum
Nesta tortura da mente
Em que penso
Que ela mente
Porque eu sou sempre assim
Este eu que se levanta
Que se afirma de repente
Sem sobressalto ou lamento:
Exige-se a si,
Urgente.

E é quando a noite cai silenciosa
Que fico mais receosa
A questão insidiosa
Viscosa...
Agarra-se a mim.
Guardo então todo o meu ser
Com infinito cuidado
E a febre de quem se ama
Pois mesmo assim
Certa
Gosto de mim
Louca
Quero ser afinal
Uma heroína imortal
Daquelas que nunca vi
Aqui
Nesta dimensão carregada
De real.

A.P.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Tentativa 1


António Sá, "São ideias frágeis que murcham"


Da Palavra

Eu não sou poeta
Nem sei se de poeta há em mim
Mas sei que agora é o que quero
Estender a minha mão
Voar num largo silêncio
Agarrar a palavra esquiva
Que tal como eu
Anda à deriva
Mirar o seu horizonte
Perder-me na perspectiva
Não ser capaz de a dizer...

Aqui, onde estou, neste instante
Onde tudo da palavra eu quero
Não sei como hei-de dizer
Que me apetece abri-la
Encontrar nas suas entranhas... o sentido
Deixá-la ser
E ser com ela
Um pouco de significado
Tentar dizê-la (indizível)
Com ela a fugir de mim.

Nesta inteira suspensão
Onde a procuro e não acho
Ando às voltas dentro de mim
Perdida nas prateleiras
Onde a palavra é um sonho
Um sonho que não tem fim
Volta e meia ela é dita
Mas fica a rir-se de mim...

E só me resta um olhar
Para a palavra enfrentar.

A.P.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Poesia


Erin Rafferty, Acid Skies
Nasci poeta abstruso.
Amo as palavras que estão
Entre o arcaico e o difuso
No cerne da indecisão.
Prefiro adrede e gomil
Digo delíquio e fanal
E só descrevo um funil
Em termos vaso de graal.
Mas nesta minha importância,
Neste sol que me irradia,
Nem Deus preenche a distância
Que vai de mim à poesia.
Reinaldo Ferreira, Poemas

quarta-feira, 14 de março de 2007

Patricia Kaas - Mon Mec à Moi

terça-feira, 13 de março de 2007

Objectos de desejo 1



Sempre senti admiração por certos pequenos rituais do quotidiano. Precisamente pelo prazer tão simples que resulta da sua repetição. Imaginar estas pequenas ritualizações a cumprirem-se através de objectos que têm o poder de proporcionar prazer aos meus sentidos, é algo, no mínimo, agradável (impossível adquirir e possuir a maior parte deles!) . À falta de os possuir, imagino... Estes objectos tornam-se, assim, objectos de desejo.
Um dos rituais que muito aprecio, entre outros, é o ritual do chá. Existem, certamente, inúmeros objectos para relembrar, ligados ao chá. Isto, para não falar da sua história...

Adorava, por exemplo, servir um cházinho neste bule! Impossível, claro! Mas imagine-se...


Marianne Brandt, Tea Infuser and Strainer, 1924

Evidentemente, existem alguns semelhantes e possíveis de adquirir, inspirados neste.

Famafest 2007

De 16 a 24 de Março

9º Festival Internacional de Cinema e Literatura

Casa das Artes /Famalicão

segunda-feira, 12 de março de 2007

Ataraxia (II)


Fotografia de António Sá e Ana Pedrosa
( clicar na foto para aumentar a imagem)

O termo Ataraxia merece uma maior atenção. O seu significado etimológico é:
- Do grego Atarakos, imperturbado. Logo, ausência de perturbações. Conforme se poderá consultar na Wikipédia.

Ou ainda, quanto a este significado, num dicionário de Termos Filosóficos Gregos:
- Sem perturbação, equilíbrio, tranquilidade da alma. Relacionado com Hedone (prazer).

Segundo um fragmento de Demócrito, registo testemunhado por Cícero, a ataraxia era o sumo bem, designada, por vezes, como firmeza de espírito.

Este ideal da ataraxia encontra-se sobretudo nas correntes filosóficas da Antiga Grécia, pirronismo e epicurismo. De importância igualmente considerável é a sua presença no estoicismo. Cada corrente fez deste conceito uma interpretação algo distinta. No entanto, todas elas relacionaram a ataraxia com a possibilidade de alcançar a felicidade.

Para quem possa ter um interesse maior sobre este termo e respectivo ideal, o qual merece uma renovada atenção nos tempos actuais, um texto excelente pode ser encontrado aqui

Ataraxia (I)


Serenity, Daniel Pollera

"De entre todas as coisas do mundo, umas há que dependem de nós,outras não dependem de nós.

As que dependem de nós são as nossas opiniões, os nossos movimentos, os nossos desejos, numa palavra, todas as nossas acções. As que não dependem de nós são o corpo, os bens, a reputação, numa palavra, todas as coisas que não se incluem entre as nossas acções.

As coisas que dependem de nós são livres por natureza, nada as pode fazer parar ou obstruir; aquelas que não dependem são fracas, escravas, sujeitas a mil condicionalismos e a mil inconvenientes, e são-nos inteiramente alheias.

Lembra-te, pois, que se tu tomas por livres as coisas que são por natureza dependentes, e por próprias aquelas coisas que dependem dos outros, encontrarás obstáculos por toda a parte, cairás em aflição, ficarás perturbado e lastimar-te-ás dos deuses e dos humanos; ao contrário, se consideras teu o que depende de ti, e alheio o que depende dos outros, jamais alguém poderá forçar-te a fazeres aquilo que não queres, nem poderá impedir-te de fazeres aquilo que tu queres. Então não te lastimarás de ninguém, não acusarás ninguém, não farás nada contra a tua vontade, ninguém poderá prejudicar-te e não terás inimigos.

Primeiramente, quando imaginas alguma coisa deplorável, é preciso que estejas pronto a dizer-lhe: tu não passas de uma imaginação, não és aquilo que pareces.

Em seguida, examina bem (isso que imaginaste), aprofunda esse exame, e para poderes fundamentar o que imaginas serve-te das regras que aprendeste, sobretudo da primeira, que é a de saber se aquilo que te aparece ( na imaginação) pertence ao número das coisas que dependem de nós, ou se não depende. Se ela se inclui entre o número das que não dependem de nós, pensa, sem fraquejar, que isso não te diz respeito."
Epicteto, Manual, I-VI.

Epicteto, 55-135 D.C.

Ao reler um texto desta natureza e atendendo à sua antiguidade, não posso deixar de notar a sua actualidade, assim como a sua pertinência. O ideal da ataraxia será, sem dúvida, um dos mais úteis, hoje. Num tempo de sobressaltos permanentes, faz-nos falta, não digo uma total ataraxia, muito discutível, mas um pouco dela, isso faz certamente uma falta incrível. Digo eu, na minha modesta opinião, uma em infinitamente mil no universo opinativo da blogosfera. O que conduziria a outra questão, a do fundamento das opiniões. Outras considerações...
O pensamento de Epicteto insere-se numa corrente filosófica geralmente designada por estoicismo, a qual pode ser muito polémica mas que, quanto a mim, no mínimo, contém alguns princípios admiráveis. Úteis para quem goste de reflectir um pouco e talvez mesmo imprescindíveis para a acção...

A quem possa interessar, um excelente texto que resume a filosofia estóica, pode encontrar-se aqui

e ainda sobre Epicteto, alguns dados podem ser recolhidos aqui

A poesia de Ricardo Reis possui toda uma atmosfera de inspiração estóica. O poema a seguir transcrito é um dos que prefiro de R.R. :

Mestre, são plácidas

Todas as horas

Que nós perdemos.

Se no perdê-las,

Qual numa jarra,

Nós pomos flores.



Não há tristezas

Nem alegrias

Na nossa vida.

Assim saibamos,

Sábios incautos,

Não a viver,



Mas decorrê-la,

Tranquilos, plácidos,

Tendo as crianças

Por nossas mestras,

E os olhos cheios

De Natureza...


À beira-rio,

À beira-estrada,

Conforme calha,

Sempre no mesmo

Leve descanso

De estar vivendo.


O tempo passa,

Não nos diz nada.

Envelhecemos.

Saibamos, quase

Maliciosos

Sentir-nos ir.


Não vale a pena

Fazer um gesto.

Não se resiste

Ao deus atroz

Que os próprios filhos

Devora sempre.


Colhamos flores,

Molhemos leves

As nossas mãos

Nos rios calmos,

Para aprendermos

Calma também.


Girassóis sempre

Fitando o Sol,

Da vida iremos

Tranquilos, tendo

Nem o remorso

De ter vivido.
Ricardo Reis, Odes

The Belleville Triplets

Boa disposição numa animação muito gira.

sábado, 10 de março de 2007

Iluminação musical: uma pequena maravilha!

Em Memória


"Espero, descansadamente...
", Ramarago



A casa era longe de tudo. Por entre antigas árvores, irradiava uma estranha luz. Era a casa que habitava na sua memória. Tempos idos, vividos, agora recuperados. Ela via a casa e dirigia-se para ela. A porta meia aberta convidava a entrar. Um passo, dois passos ao luar. Aproximava-se. A noite tremia cheia de estrelas por cima da casa. O coração a bater descompassado. A casa era a dela e nem assim a conhecia. Nem assim sabia qual era exactamente o seu interior. Um frio no estômago, prestes a gelá-la. A força inevitável dos seus passos a avançar. Espreitou. No fundo dos seus olhos, a casa reflectia-se. Empurrou a porta e olhou... Um foco de luz surgiu por entre as sombras. O pai suavemente dormia, rosto encostado à mão, um ser iluminado. Aproximou-se e tocou-lhe ao de leve no braço repousado. Perpassou por si um suave abandono. O mesmo que emanava da casa. Era um momento suspenso no tempo. Onde não há nada a não ser um sono sem sonhos. O encanto de um descanso no silêncio. Tomou devagar a outra mão do pai, esquecida nos recantos do seu sono. Encostou-a ao peito e sentiu o calor do silencioso amor. Como por magia, logo fechou os olhos e adormeceu. Respirava com ritmo. Devagar. Respirava ao ritmo da casa. O pai era a sua alma. Por isso, a casa estava viva.

A.P.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Mulheres ... já agora, que tal "a look in the mirror"?

The New-Way Course in Fashionable Clothes-Making (1926)



" (...) o espelho reflectia a mesa que se encontrava à entrada, os girassóis e o carreiro do jardim com tamanha fixidez que seria lícito julgá-los ali aprisionados para sempre. Tratava-se de um contraste estranho - aqui, tudo mudava; ali, nada se mexia. Ninguém teria sido capaz de resistir à tentação de fazer comparações. Enquanto isso, e dado todas as portas e janelas se encontrarem abertas ao calor, reinava ali uma espécie de murmúrio, a respiração de tudo o que é perene, contrastando assim com a imagem do espelho, onde nada respirava, tão envolvidas se encontravam as coisas no transe da imortalidade."
Virginia Woolf, "A Dama do Espelho"

Dia da Mulher ou Mulher todos os dias?




Mulheres!... Oiçamos JAZZ!!! Com os homens.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Viva o "IF" !



Etienne Daho e Charlotte Gainsbourg

Da Felicidade (segundo Henri Michaux)


Michaux, Cópia de Montagem
[ imagem obtida aqui ]

" Às vezes, num repente, sem causa visível, percorre-me um grande arrepio de felicidade.

Vindo dum centro de mim, tão interior que eu o ignorava, ele leva, embora rodando a extrema velocidade, um tempo considerável a alcançar as minhas extremidades.

Esse arrepio é perfeitamente puro. Por mais extensamente que circule dentro de mim, nunca encontra nenhum orgão inferior, nem qualquer outro, de resto, nem encontra ideias, nem sensações, de tal modo é absoluta a sua intimidade.

E tanto Ele como eu estamos perfeitamente sós.

Talvez que, percorrendo todas as partes de mim, ele me pergunte à passagem: "Então, como vai isso? Posso fazer alguma coisa por si, neste sítio?" É possível. E que à sua maneira me console as entranhas. Mas eu não sou posto ao corrente.

Eu gostaria de proclamar a minha felicidade, mas que dizer? É uma coisa tão estritamente pessoal.

Dentro em pouco, o prazer é demasiado intenso. Sem eu dar por isso, no espaço de segundos, torna-se um sofrimento atroz, um assassinato.

A paralisia! digo cá para mim.

Faço depressa alguns movimentos, rego-me com muita água ou, mais simplesmente, deito-me de barriga para baixo, e a coisa passa."
Henri Michaux, As Minhas Propriedades


Henri Michaux (1899-1984)
[ imagem obtida aqui ]

Henri Michaux é, entre os escritores ligados ao surrealismo, um dos que mais aprecio. Também é interessante o seu trabalho de pinturas e desenhos. Sobretudo pela sua enorme originalidade, merece ser recordado.

terça-feira, 6 de março de 2007

Um poema sabe sempre bem



Alexandre O'Neill, para alguns textos e poemas, clicar aqui


Viver

" É tão frágil a vida
tão efémero tudo!
(Não é verdade, amiga
olhinhos cor-de-musgo?)

E ao mesmo tempo é forte,
forte da veleidade
de resistir à morte
quanto maior a idade.

Assim, aos trinta e sete,
fechados alguns ciclos,
A vida ainda pede
mais sentimento, vínculos.

Não tanto os que nos deram
a fúria de viver,
como esses descobertos
depois de se saber

que a vida não é outra
senão a que fazemos
( e a vida é uma só,
pois jamais voltaremos)

Partidários da vida,
melhor: do que está vivo,
digamos "não" a tudo
que tenha outro sentido.

E que melhor pretexto
(quem o saiba que o diga!)
teremos p'ra viver
senão a própria vida?

Alexandre O'Neill, no Reino da Dinamarca

A vírgula


Bem cedo, de manhã, ouvi um programa na rádio sobre a recém editada biografia de Alexandre O'Neill. Foi assim que escutei dois magníficos poemas seus, ditos por ele próprio. Gravações que desconhecia. Foi assim também que ouvi esta expressão extraordinária, tal como muitas do mesmo autor:

"(...) a vírgula maníaca do modo de ser funcionário."

!! Bom, não me sai da cabeça. Deve ser como estou a ficar, com um modo de ser funcionário. Mas ele referia-se a si mesmo, no poema, portanto, deve ter passado pela mesma angústia. Como não apurar sempre mais e mais um modo de ser funcionário, se cada vez mais é preciso ser um bom funcionário? Resta-me a vírgula maníaca, companheira fiel de dúvidas, hesitações e correcções. E acho que vou estar sempre ocupada. Há sempre uma vírgula para acrescentar, retirar ou rectificar. Valha-me isso!

Grande poeta, Alexandre O'Neill!

segunda-feira, 5 de março de 2007

Wax Poetic feat Norah Jones - Angels

O anjo da fotografia.
Música e fotografia.
ou
Um pequeno toque de magia...

Fotografia II

Para mim, para todos e, em especial, para S.!

Munoz, O Ballet Nacional de Cuba, 2001


A minha relação com a fotografia tem estado em desenvolvimento e em franco progresso. Há tantas coisas que atraem o meu olhar no correr dos dias! Parece que não prestei a devida atenção a esta técnica com a qual é possível fazer arte. Porque considero ter sido uma lacuna na minha, porventura, cultura geral ( !! - tê-la-ei, tem-se alguma vez quanto baste?), proponho-me dar maior atenção aos fotógrafos. Para isto contribuiu a influência da S., acima referida, em particular por mostrar algumas fotografias que foram, para mim, cativantes. De lá para cá, tenho procurado informar-me e desenvolver o meu gosto ou sentido estético a este nível.
Parece-me também que no registo de imagens, quase fazendo parar o tempo pelo registo de instantes que ficam, há qualquer coisa de mágico. E esta sensação é deveras especial e tenho que confessar, é-me muito cara. Não posso imaginar a vida sem pequenos instantes de magia. Na literatura, no cinema, na pintura, na filosofia, na ciência,na música, etc,etc,etc... e na fotografia!!

Transcrevo excertos de um belíssimo pequeno ensaio, constante de um também belíssimo livro de Giorgio Agamben, uma descoberta recente que me tem encantado e conseguido prender à leitura. Por coincidência, nele encontrei algo que vem imensamente a propósito do meu propósito.

" Que é que me fascina, que me deixa encantado nas fotografias que amo? Creio que se trata, simplesmente, do seguinte: a fotografia é, para mim, de certo modo, o dia do Juízo Universal, representa o mundo tal como aparece no último dia, no Dia da Cólera. Não é, certamente, uma questão de tema, não quero dizer que as fotografias que amo são aquelas que representam qualquer coisa de grave, de sério ou, até, de trágico. Não, a fotografia pode mostrar um rosto, um objecto, um acontecimento qualquer. É o caso de um fotógrafo como Dondero que, tal como Robert Capa, permaneceu sempre fiel ao jornalismo activo e praticou, frequentemente, aquilo a que se poderia chamar a "flânerie" ( ou a "deriva") fotográfica: um passeio sem rumo, fotografando tudo o que aparece. Mas "aquilo que aparece" - o rosto de duas mulheres que passeiam de bicicleta na Escócia, a vitrina de uma loja em Paris - é convocado, é citado a comparecer no Dia do Juízo Final."
Giorgio Agamben, Profanações


J.Binoche, imagem obtida aqui

" (...) No instante supremo,o homem, qualquer homem, fica registado para sempre, no seu gesto mais ínfimo e quotidiano. E, todavia, graças à objectiva fotográfica, aquele gesto fica doravante carregado com o peso de toda uma vida, aquela posição irrelevante, talvez desajeitada, resume e contrai em si o sentido de toda uma existência.

Eu creio que existe uma relação secreta entre gesto e fotografia. O poder que o gesto tem de retomar e convocar ordens inteiras de potências angélicas constitui-se na objectiva fotográfica e tem na fotografia o seu locus, o seu momento tópico. Benjamim escreveu uma vez, a propósito de Julien Green, que este representa os seus personagens num gesto carregado de destino, que os congela na irrevogabilidade de um além infernal. Creio que o inferno que aqui está em causa é um inferno pagão e não cristão. No Hades, as sombras dos mortos repetem até ao infinito o mesmo gesto: (...). Mas não se trata de uma punição, as sombras pagãs não são deuses condenados. A eterna repetição é, aqui, o código (...), da infinita recapitulação de uma existência."
Giorgio Agamben, Profanações

Kim Anderson, O Mundo de Kim Anderson II

"Existe, porém, um outro aspecto nas fotografias que amo e que não queria, de forma alguma, calar. Trata-se de uma exigência: o tema captado na fotografia exige de nós qualquer coisa. O conceito de exigência é algo que prezo especialmente e não há que o confundir com uma necessidade factual. Mesmo que a pessoa fotografada estivesse, hoje, completamente esquecida, mesmo que o seu nome tivesse sido apagado, para sempre, da memória dos homens, ora bem, apesar disso - talvez precisamente por causa disso - aquela pessoa, aquele rosto exigem o seu nome, exigem não ser esquecidos."
Giorgio Agamben, Profanações



Dondero, Pasolini

"Dondero exprimiu, uma vez, uma certa distância em relação a dois fotógrafos que, no entanto, admira, Cartier-Bresson e Sebastião Salgado. No primeiro vê um excesso de construção geométrica, no segundo um excesso de perfeição estética. A ambos opõe a sua concepção do rosto humano como uma história a contar ou uma geografia a explorar. No mesmo sentido, também para mim a exigência que nos interpela das fotografias não tem nada de estético. É, mais, uma exigência de redenção. A imagem fotográfica é sempre mais do que uma imagem; é o lugar de uma separação, de um dilaceramento sublime, entre o sensível e o inteligível, entre a cópia e a realidade, entre a recordação e a esperança.
(...)
É sabido que Proust era um obcecado pela fotografia e que procurava, por todos os meios, obter a fotografia das pessoas que amava e admirava. Um dos rapazes por quem se apaixonou quando tinha 22 anos, Edgar Auber, ofereceu-lhe a seu insistente pedido, um retrato. Nas costas da fotografia escreveu, à guisa de dedicatória: Look at my face: my name is Might Have Been; I am also called No More, Too Late, Farewell ( Olha para a minha cara. O meu nome é Poderia Ter Sido; também me chamo Nunca Mais, Demasiado Tarde, Adeus). A dedicatória é, certamente, pretensiosa mas exprime, bem, a exigência que anima todas as fotografias e capta o real que está constantemente a perder-se para o tornar, de novo, possível."
Giorgio Agamben, Profanações


Robert Doisneau, Jacques Prevert, Paris, 1955

" De tudo isto a fotografia exige que nos recordemos, de todos estes nomes perdidos as fotografias prestam testemunho, tal como o livro da vida que o novo anjo apocalíptico - o anjo da fotografia - tem entre as mãos no fim dos dias, ou seja, em cada dia."
Giorgio Agamben, Profanações


sábado, 3 de março de 2007

Saint Etienne - A Good Thing (From Almodovar Film Volver)

Música...sim!
Filme...sim!

sexta-feira, 2 de março de 2007

Do amor (em jeito de divagação...)

Ela olhava para ele e percebia que o seu olhar nunca seria dela. E também era certo que o dela nunca seria dele. Espreitando à volta, reconhecia a imensidão do mundo que existia para olhar. Isto sem contar com o universo imenso do "olhar para dentro". De si, dele... dos outros todos. Do universo das sensações dele, ela não poderia saber, nem sequer falar. Talvez nem das suas. Desejou ser o todo do olhar dele mas sabia que não continha em si o mundo todo que há para olhar. Na verdade, apesar disso, interrogava-se. O todo seria todo em extensão ou em compreensão? Ou seria a fusão de ambos? Certo, certo, do todo não sabia. Incerto e firme, porque convicta, sabia do amor - que o amor não é extensão, tão só compreensão.
A.P.

Do Universo

Enceladus


"O facto de um computador imitar o nosso universo leva um grande número de autores a interrogarem-se, legitimamente, sobre se o universo é, ele próprio, um computador. Segundo eles, tudo no mundo seria um processo de cálculo, muito complicado, mas afinal, com resultados previsíveis, uma vez conhecido o programa que regula a máquina do mundo. Se o universo é um computador, uma reflexão aprofundada sobre a computação conduzirá, necessariamente, a um conhecimento acrescido sobre o universo."
Carlos Fiolhais, Universo, Computadores e tudo o resto



Ring World


" O cientista não estuda a Natureza porque tal é útil. Estuda-a porque tem prazer nisso; e tem prazer nisso porque ela é bela. Se a Natureza não fosse bela, não valeria a pena o conhecimento, nem a vida valeria a pena ser vivida. (...) É porque a simplicidade e a vastidão são ambas belas que procuramos de preferência factos simples e factos vastos, que tomamos prazer, (...) em seguir os gigantescos percursos das estrelas, (...)."
Henri Poincaré, Le valeur de la science



The Great Crossing


" (...) o grande sonho da descoberta de um esquema unificador que ligasse os factos e os acontecimentos que observamos e vivemos, esse grande sonho nunca foi inteiramente abandonado. Na segunda metade do século XX, o vazio espiritual deixado pela explosão dos sistemas clássicos de conhecimento e de crença ressuscitou esse sonho e suscitou uma nova procura. Hoje, é essa procura mais do que nunca que está na ordem do dia. Como se revela através de fotografias tiradas do espaço a partir dos satélites, o nosso planeta é um mundo integrado num mundo mais vasto: o sistema solar, a galáxia, o Universo no seu conjunto. O novo esforço desenvolvido para se alcançar uma visão integral, global, tem em conta essas realidades mais amplas: a procura das nossas origens, o nosso lugar e o nosso papel na natureza e no cosmos."
E. Laszlo, Nas Raízes do Universo


Titan's Halo

Imagens de Cassini-Huygens (clicar para mais imagens aqui )


quinta-feira, 1 de março de 2007

Flags of Our Fathers (Music Sample)

Um filme de guerra com uma música que deseja a paz...